A primeira percepção deste pequeno país chegou-nos ainda do lado da Guatemala, onde quatro quilómetros antes da fronteira, camiões e mais camiões se perfilavam, aguardando tranquilamente a sua vez de passar pelo posto aduaneiro e entrar em El Salvador.
Seria uma fronteira complicada? Quereriam dinheiro para fazer tudo andar mais depressa? A resposta não a chegámos a descobrir já que pessoas e mercadorias tramitam em sítios diferentes, mas lá que foi divertido ultrapassar todos os camiões que nos tinham passado na estrada no dia anterior lá isso foi.
Já a nossa passagem não podia ter sido mais simples, um carimbo de saída do lado da Guatemala, um registo de entrada no lado de El Salvador e estávamos prontos a seguir. Nem uma hora tardámos!
El Salvador é o país mais pequeno da América Central e, tal como a maioria dos seus vizinhos, esteve até há uns anos em guerra civil, pelo que, o turismo, apesar de presente, ainda não é massivo. Seguimos sempre a estrada junto à costa e gozámos uma das coisas que mais gostamos, a praia! Pela estrada rodeada de árvores, campos de cana de açúcar, terrenos agrícolas e gente sorridente, chegámos à Playa Dorada, de areia fininha negra, ondas, coqueiros e palmeiras. O mergulho antes do pôr-do-sol impunha-se, e a água quente, por incrível que pareça, ajudou-nos a refrescar, do calor intenso do dia (no pico do calor a temperatura atingiu os cinquenta graus!). De seguida um mergulho na piscina do hotel e no pensamento “todos os dias de ciclismo deviam terminar assim!”.
O dia seguinte foi para descansar e explorar um pouco a praia, que é constituída por duas linhas de casas, as primeiras na areia, e que na sua maioria pertencem a estrangeiros que lá vão uma vez por ano. No resto do tempo são arrendadas e cuidadas por famílias de El Salvador que lá residem a tempo inteiro. Por sorte era Sábado e muita gente vinha vender coisas na rua como pastéis, bolos, batatas fritas ou fruta, caso contrário pouco havia para comprar nas duas ou três lojas básicas que abastecem a aldeia. Em conversa com as senhoras que faziam os pastéis descobrimos onde podíamos comprar peixe fresco e na cozinha do hotel o Pedro fez um inesquecível jantar de filetes com arroz de peixe.
A nossa viagem continuou até à praia El Tunco, uma das mecas do surf de El Salvador, num caminho semelhante à costa do Oregon ou ao Big Sur na California, muitas curvas, muitas subidas e descidas, cinco túneis completamente escuros e fantásticas vistas de praia. O calor e dois furos na minha (Sara) roda da frente fizeram com que um dia que seria curto se prolongasse interminavelmente. Felizmente as estradas costeiras neste país têm uma berma quase do tamanho da faixa, o que nos permitiu andar com bastante segurança e tranquilidade.
Em El Tunco ficámos dois dias e foi aqui que eu recebi a minha segunda prenda de anos, uma aula de surf. O Ewer, o professor começou por me explicar o movimento na areia, que eu treinei até conseguir fazê-lo de forma medíocre e de seguida fomos para o mar, onde ele me ia lançando, onda atrás de onda e eu, usando todas as minhas forças e concentração tentava imitar o movimento já feito em terra. À primeira quase nem me mexi, mais umas dez vezes e eu lá ia tentando mas de cada vez que caía era enrolada pela máquina de lavar que eram aquelas ondas, e engoli tanta água pelo nariz que arrisco dizer que as minhas vias respiratórias ficaram limpas pelos próximos dois anos. Tivemos que vir a terra descansar e beber água, dez minutos depois voltávamos, e entre uma e outra vez, lá me consegui pôr em cima da prancha por meio segundo! Foi uma vitória mas percebi que mesmo com tanto exercício o meu tronco e braços não têm força nenhuma. De qualquer forma as ondas, apesar de muito boas (dizem os entendidos que El Salvador tem a onda mais consistente de água quente do mundo) eram bem fortes e a minha vontade de continuar no mar com a prancha perto de zero, já que nem sequer tinha aprendido a remar e a apanhar as ondas. Foi então a vez do Pedro, que já sabe surfar, ir brincar um pouco para o mar, mas ele sofre do mesmo problema que eu, pouca força de braços e passado algum tempo resolvemos que o melhor era irmos almoçar. O resto do tempo, já sem prancha, foi passado a gozar a praia e a água bem quente, a ver os surfistas a apanharem ondas e a conversar com o Peter, um motociclista que está a fazer a mesma viagem e a demorar quase tanto tempo como nós em bicicleta!
We had the first perception of El Salvador on the Guatemalan side, where four kilometers before the border, trucks and more trucks were patiently waiting their turn to go through customs and enter in El Salvador.
Was it going to be a complicated border? Would they want money to make everything move faster? We never new the answer since people and goods pass through different places, but it surely was fun to pass all the trucks that had passed us on the road the previous day.
Our border crossing could not have been simpler, in one side the exit stamp from Guatemala, a log entry on the side of El Salvador and were ready to move. It didn’t even took us an hour!
El Salvador is the smallest country in Central America and, like most of its neighbors, was in a civil war until a few years ago, therefore, tourism, although present, is not massive. We kept following the road along the coast, and enjoying one of the things we love, the beach! On this road, surrounded by trees, sugar cane fields, farmland and smiling people, we came to Playa Dorada, with thin black sand, waves, coconut and palm trees. Taking a dip on the ocean before the sunset was almost mandatory, and the hot water, oddly enough, helped us to cool off from the intense heat of the day (at the peak of the heat the temperature reached fifty degrees celsius!). Then we took a dip in the hotel swimming pool and thought “every cycling day should end like this!”.
The next day was to rest a bit and explore the beach, which consists of two rows of houses, the first one on the sand, that are mostly owned by foreigners who go there once a year. The rest of the time the little ranchos are rented out and cared by families of El Salvador living there full time. Luckily it was Saturday and many people came to sell things on the street as pastries, cakes, chips or fruit, otherwise there was little to buy in the two or three basic premises supplying the village. In conversation with the ladies who made the pastries we found out where we could buy fresh fish and in the hotel’s kitchen Pedro made an unforgettable dinner of fish fillets with rice.
Our trip continued to El Tunco beach, one of the surfing meccas of El Salvador, in a similar road to the Oregon coast or Big Sur in California, lots of curves, many ups and downs, five dark tunnels and fantastic views of the beach path. The heat and two flats on my (Sara) front tire made a day that would be short endlessly big. Fortunately coastal roads in this country have a shoulder almost the size of the lane, which allowed us to ride calmly and safely.
We spent two days In El Tunco and it was here that I received my second birthday present, a surf lesson! Ewer, the teacher began to explain the movement still on the sand and I trained it until I can do it in a mediocre way and then we went to ocean, where he was dropping me, wave after wave and I, using all my concentration and forces tried to imitate the movement done still on land. At first I hardly moved, and after a dozen times, with me trying harder each time. Also each time I fell into a laundry machine, got rolled wound on the waves and swallowed so much water through the nose that I daresay that my airways were cleared for the next two years. We had to go to sand to rest and drink water and ten minutes later we returned and after some more tries I managed to stand on the board by half a second! It was a victory but I realized that even with so much exercise both my core and arms have no strength. Anyway, although the waves were very good (experts say that El Salvador has the most consistent wave of hot water in the world) they were also very strong and my will to continue at sea with surfboard was near zero, since I had not even learned to paddle and catch the waves. It was then Pedro’s turn! He already knows how to surf so he went to play a little, but he suffers from the same problem as me, almost no strength in the arms, and after a while we decided it was best to go and have lunch. The rest of the time, without board, was spent enjoying the beach and hot water, watching the surfers catch the waves and talking with Peter, a biker who is making the same journey and taking almost as long as we on our bikes!