Facto estranho nº 1: Depois do meu dia de ciclismo sozinha, o Pedro decidiu que era altura de voltar ao selim, por isso arrumámos tudo, montámos nas bicicletas e andámos pouco mais de 1.500 metros, direitinhos ao outlet da Patagonia em Dillon, Montana.
Eu fiquei maravilhada com a quantidade de roupa que era possível escolher, em diferentes cores e com o meu número disponível. Com descontos de quase 40% a tentação já era grande, mas ainda maior ficou quando o Kevin nos disse que podíamos utilizar um cupão com 40% de desconto que ele tinha, desde que fizéssemos as nossas compras em conjunto com eles. Depois de quase duas horas a rondar a loja, optámos por dois casacos impermeáveis, em gore-tex, nas cores mais garridas que se possam imaginar (bom para a visibilidade na estrada) e à módica quantia de nada mais nada menos que € 70, cada um. Quem está informado acerca dos preços do gore tex, e da roupa da Patagonia, sabe bem o negócio da china que isto foi, quem não sabe, é perguntar ao google.
Facto estranho nº 2: Depois de uma manhã de compras, foi altura de almoçar uma massinha num restaurante posh da cidade, enquanto me (Sara) deleitava com a Vogue, e pensava que não andava assim tão longe da minha vida normal, até o Eric me lembrar, “pois, mas vivemos em tendas!”.
Facto estranho nº 3: De volta à realidade era altura de (re)começar a ciclar, e desta vez tínhamos dois passes bem altos à nossa espera. Para não variar fomos os últimos a sair, e como lentos que somos fomos ficando para trás e para trás, até o Tod passar por nós e levar os nossos alforges na carrinha, dando-nos assim uma pequena ajuda.
Facto estranho nº 4: Quase no cimo do segundo passe, aí aparece ele novamente, prontificando-se a levar-nos o mais rapidamente possível para junto do grupo, para aproveitarmos a piscina de águas quentes termais, à nossa disposição no parque de campismo. Terminámos a subida, aproveitámos a descida e depois foi altura de apanharmos mais uma boleia.
Facto estranho nº 5: Ainda na carrinha somos informados pelo Tod que o preço no parque era por tenda e não por pessoa, pelo que, para os onze que agora somos, foram negociadas quatro tendas. À Annie, por algum motivo, coube a tarefa de organizar as tendas, e apesar de termos montado a nossa, fomos escolhidos para dormir com a Jeanné e o Kevin na tenda maior, enquanto o Eric, o Tod e o Evan partilhavam a noite na nossa casita.
Facto estranho nº 6: Embora já nos tenha acontecido antes, tem sido raro o dia que termina numa piscina de água quente enquanto vamos partilhando pensamentos sobre a viagem, e todos os assuntos possíveis e imaginários, num verdadeiro relaxamento depois de um dia de intenso (vá, não foi dos mais intensos) de esforço físico.
Facto estranho nº 7: O parque de campismo está inserido numa espécie de complexo, onde também há um bar, aliás, pouco mais há. Com um bar quase ao lado da tenda é impossível alegar cansaço, e por isso, depois de um jantar comunitário lá fomos todos ao bar, apreciar uma noite de karaoke, perdidos no meio do nada, em Jackson, Montana. Pela minha parte, foi a primeira vez que fui a um bar de pijama, mas não era a única com roupa menos apropriada, estávamos todos a conversar quando ouvimos: “Boa noite, o meu nome é Evan, estou a usar calções de ciclista num bar e não me importo”. Claro que fomos para a frente do palco apoiar o Evan, que a meio da música diz “eu sou da Geórgia”, e gabar a sua coragem de subir a um palco e não se importar com nada.
Facto estranho nº 8: Já cansados fomos os primeiros a sair do bar para ir dormir, e pouco depois veio o Evan também. Já estávamos a dormir quando ouvimos a voz de um homem, bêbado a chamar pela sua cadela em altos berros, alternando o discurso entre “vem cá …, vem cá menina”, “onde é que está a porra da minha cadela”, ainda vou matar alguém esta noite”, “… vem cá”, “aposto que esconderam a minha cadela naquelas tendas”, “vou abrir aquelas tendas para ver se está lá a minha cadela”.
Foi nesse momento que o Evan saltou de dentro da nossa tenda, aproximou-se do personagem estranho, que por acaso estava com um amigo, e foi abrindo as tendas uma a uma e, apontando com uma lanterna para dentro de cada uma, demonstrou que ninguém tinha escondido uma cadela dentro da tenda. Tal gesto valeu-lhe um pequeno-almoço no restaurante no dia seguinte. O rapaz lá se acalmou, mas passado uns cinco minutos voltou à carga, sendo que a frase que mais nos impressionou foi “ainda vou atirar em alguém esta noite”, já que o fácil acesso a armas, uma bebedeira, estupidez, e estar a dormir debaixo de um pedaço de tecido são uma combinação pouco eficaz para nos sentirmos em segurança. Felizmente acabou por encontrar a cadela, no que nos pareceu uma meia hora e rapidamente voltei ao sono depois de um dia nada normal.
Strange fact #1: After my day cycling alone, Pedro decided it was time to go back to the saddle, so we packed everything, mounted our bikes and ride no more than 5000 feet, straight to Patagonia’s outlet in Dillon, Montana.
I was amazed with the amount of clothing that you could choose from, in different colors, and with my number available. With discounts of almost 40% the temptation was big, but became huge when Kevin told us we could use a coupon with 40% discount (over the other 40%) that he had, as long as we did our purchase at the same time as his. After almost two hours around the store , we opted for two waterproof jackets in gore-tex , with the the more garish colors imaginable (good for visibility on the road) and the modest sum of no less than $80 each. The people who know about gore-tex prices, and Patagonia clothing, know this was an amazing deal,the ones who don’t should ask google .
Strange fact #2 : After a morning of shopping, it was time to have some pasta for lunch in a posh restaurant in the city. I was reveling with Vogue and thinking I was not so far away from my normal life, until Eric said, ” Yes, but we still live in tents” .
Strange fact #3: Back to reality it was time to (re)start cycling, and this time we had two high passes awaiting on us. As usual we were the last to leave, and slowly we were falling behind. Then Tod passed us and took our panniers in the truck, thus giving us a little help.
Strange fact #4 : Almost at the top of the second pass, there comes Tod again, offering to take us as soon as possible to meet the rest of the group and to take advantage of the hot springs, at our disposal at the campground. We finished the climb, took the descent and then it was time to take one more ride on the truck.
Strange fact #5 : While we were still riding in the truck, Tod told us that the price in the campsite was per tent and not per person, so he negotiated a price for four tents. Annie, for some reason, had the task of organizing the tents, and although we set up ours, we were chosen to sleep with Jeanné and Kevin in the larger tent, while Eric, Tod and Evan shared the night in our little home.
Strange fact #6: Although it has happened before, it’s a rare day the one that ends in a pool of hot water while we share thoughts about the trip and everything else, and real relax after a day of intense (well, it was not the most intense) physical exercise.
Strange fact #7: The campsite was set in a kind of complex, where there is also a bar, in fact, there was little more beside that. With a bar almost next to the tent it is impossible to claim tiredness, and so, after a community dinner there we all went to the bar, enjoyed a night of karaoke, lost in the middle of nowhere, in Jackson, Montana. For my part, it was the first time I went to a bar in pajamas, but I was not the only one with not so appropriate clothing. We were all hanging out when we heard: “Good evening, my name is Evan, I’m wearing cycling shorts in bar and I don’t care.” Of course we went to the front of the stage supporting Evan, and boast his courage to get on a stage and not caring about anything. In the middle of the song he says “I’m from Georgia”.
Strange fact #8: Being already tired, we were the first to leave the bar to go to sleep, soon after Evan came too. We were already asleep when we heard the voice of a man calling for his dog, screaming out loud, alternating between ” … come here, come here girl “, ” where is my fucking dog”, “I will shoot someone tonight “, ” … come here”, ” I bet my dog is hidden in one of those tents” ” I’ll open those tents to see if they have my dog there.”
That was when Evan jumped from the inside of our tent, approached the strange character, who happened to be with a friend, and started opening the tents one by one, and, pointing a flashlight into each one, showed that nobody had hidden his dog inside the tents. This gesture earned him a breakfast at the restaurant the next day. The guy calmed down, but after about five minutes he got back into screaming. The phrase that impressed us most was “I’m going to shoot somebody tonight” as the easy access to weapons, being drunk, stupidity, and us sleeping under a piece of fabric is a very effective combination for making us feel unsafe. Fortunately he eventually found the dog, in what seemed like a half hour and quickly I went back to sleep after a day anything but normal.