Como seria de esperar, após uma sessão de cinema para descontrair na véspera, o acordar teve uma latência de meia-hora, que não foi recuperada graças à nossa crónica modorra matinal. Resultado: após descermos a colina em direcção ao Cais do Sodré sob chuva tempestuosa, perdermos o barco das 7 e meia por as binas não passarem no torniquete e termos que chamar o segurança que, muito prestável, ainda tentou segurar o barco pelo walkie-talkie, mas sem sucesso.
Mal chegámos ao cais do Montijo partimos prontamente. Eram oito e meia, estava frio e e ciclámos em torno da bela cidade em direcção à N4, que nos levaria na direcção nascente. Os primeiros quilómetros foram de adaptação, mas cedo chegou bom asfalto com, regra geral, uma berma generosa que nos deu a confiança necessária para uma manhã algo molhada. Mas até nisso não tivemos muito azar, só parámos uma única vez por causa da chuva, uns 5 minutos (e já depois de apanhar com o grosso das pingas) lá para os lados de Pegões Velhos, sob o abrigo de uma paragem de autocarro. Na verdade a chuva não incomoda muito em doses controladas: os impermeáveis mantêm a água fria longe do tronco e pernas; e as pernas e lycra (sim, lycra… :P) escorrem e secam num instante.
A paragem do almoço foi na meca da bifana. Vendas Novas, uma rua principal recheada de cafézinhos, ora à esquerda, ora à direita, com os mais sugestivos nomes relacionados com a iguaria: o Rei das bifanas, o Paraíso das Bifanas… Mas escolhemos por recomendação do meu guru das binas – obrigado Ernesto – o café Boavista, casa das bifanas. E que boa era, precedida por uma empada, seguida de quejiada e café e acompanhada de duas imperiais. Ai as saudades que vou ter deste Portugal.
Seguiu-se a parte mais dura: regressar ao selim. Até Montemor-o-Novo a primeira metade é fácil mas mói, e torna desafiantes as duas subidas depois das linhas de água à entrada da vila. Pela primeira vez usámos as “avozinhas” sem alternativa. O peso dos alforges aliado à lei da gravidade foram implacáveis e como recompensa, lanchámos umas torradas e chá na avenida principal de Montemor. Num café que servia bifanas, claro!
Partimos para a etapa mais dura do caminho, a N114, que liga Montemor a Évora, continua a subir lentamente até ao cruzamento do Escoural. Mas o maior obstáculo era o nosso cansaço, valeram-nos as sucessivas paragens, e o providencial ovo de chocolate negro que recebemos pela Páscoa. Mas a partir desse ponto, e enquanto anoitecia, voámos sucessivas ladeiras abaixo, sempre a rondar os 30 km/h, e devorando quilómetro após quilómetro até avistarmos a placa da cidade, já de noite. Passavam as nove e estávamos cerca da muralha, faltavam 500 m para o nosso porto seguro. Hoje ficamos em casa de amigos, ainda nesta viagem contamos experimentar o material de campismo. Amanhã partimos para Sousel numa etapa mais modesta.
Abraços a todos,
Pedro
O Café Boavista é o único que não é “rei” ou paraíso” e por isso mesmo reina. Serve as melhores bifanas do mundo há mais anos do que aqueles que gosto de lembrar.
Boas viagens