Tudo começou com um email para a minha amiga Temy, que em tempos me falou numa amiga sua, a Ana, que se tinha mudado para a Costa Rica para plantar café. Adoramos conhecer portugueses que vivem nos países que temos visitado e quando me (Sara) lembrei disto pedi logo se havia possibilidade de a Ana nos receber na sua quinta.
A resposta não podia ser mais aberta e desde logo começámos o nosso comportamento abusivo pedindo que nos recebessem e guardassem algumas encomendas até à nossa chegada. A partir daí fomos trocando emails constantemente notando-se uma certa ansiedade pela nossa efectiva presença. O principal problema é que do nível do mar havia que subir a 1200 metros de altitude nuns escassos 30 km. Nada que a Ana não resolvesse com uma boleia da sua irmã Dina e da sua tia Isabel, as suas companheiras nesta aventura de quase dois anos e meio.
A situação em Portugal não era das melhores, a vontade de mudar de vida existia e a Dina, que trabalhava já há muitos anos em Washington DC teve a dica de uma amiga de que viver na Costa Rica seria uma boa ideia. “Mas ir para a Costa Rica fazer o quê?” – perguntou a Ana, “só se for plantar café” disse a Dina, o que prova que as boas ideias e mudanças de vida nem sempre são fruto de extensas reflexões por parte dos seus, neste caso suas, protagonistas.
Passaram-se cerca de nove meses entre a pesquisa de uma finca (quinta) e todos os trâmites necessários a uma mudança de vida desta envergadura e as três aventureiras começavam a sua nova vida de produtoras de café. Em breve descobriram que precisavam de uma marca própria se queriam ter algum lucro no negócio e assim nasceram Las Dueñas.
Enquanto nos levavam de jipe, todos encolhidos entre bicicletas e alforges a Dina e a Isabel foram-nos dizendo para não esperarmos grandes luxos, tinham umas cabanitas onde viviam e pouco mais. Ora cabanitas são edifícios em cimento, com janelas sem vidros e portadas em madeira e telhados em palha, não o fantástico alojamento em que fomos recebido, com direito à nossa própria cabana, com casa-de-banho privada, closet, uma janela gigante com vista para o vale verdejante e todos os luxos da civilização moderna.
Confessamos que depois de noites a dormir no chão dos quartéis de bombeiros nos soube a pato, mas o melhor é que estas simpáticas moças têm a enorme virtude de ser portuguesas e apreciar boas comidas, conversas à mesa, bom pão, que nós enfardámos como se não houvesse amanhã, e coisinhas boas do nosso país que nos fizeram sentir em casa, entre doces típicos, moelas ou arroz de frango.
Nos dias que passámos com elas mostraram-nos a localidade de San Vito, um dia típico de recados entre pôr o café a tostar, ir tirar fotocópias ou encher o depósito no Panamá, a uns meros quilómetros de casa sem ser preciso atravessar a fronteira. Claro que também vimos a enorme plantação de café (seis hectares com planos de expansão), resgatada de algum desleixo prévio pela dedicação de corpo inteiro da Ana e até demos uma pequena ajuda numa manhã, arrancando os ramos em demasia que nascem sem pejo nas pequenas plantas. Não é um trabalho fácil, com o calor do Sol, a inclinação do terreno e o tempo que se passa debruçado, por isso ainda mais louvável para quem tem que o fazer diariamente e não só para experimentar como foi o nosso caso.
Se a Ana se foi tornando a especialista na plantação, a Dina e a Isabel tratam dos números, das vendas e da clientela, trabalho que também lhes sai do pêlo já que de duas em duas semanas há que sair do fresco da quinta e descer ao calor tropical da costa para em dois dias entregar café, tentar cativar novos clientes e desenvolver os contactos já feitos. As três trabalham esforçadamente mas têm o brilho nos olhos de quem está a construir algo de seu.
Pelo meio ainda tomam conta de quatro cães, uma série de gatos, uma horta, um belo jardim e dos seus convidados, a quem oferecem enormes quantidades do seu excelente café. A Ana, a mais desenvencilhada, levou-nos a umas lagoas quentes naturais, a Dina, a mais chique, assistiu connosco vigorosamente ao último jogo do Mundial em que a Costa Rica foi eliminada, a Isabel, a mais tranquila, tratou dos nossos bilhetes de avião, requisito essencial para entrar no Panamá, e todas jogaram canasta com o Pedro, que assim também matou saudades de mais uma das actividades de casa.
Foram dias passados com muita alegria, com um gostinho a Portugal que tanta falta nos vai fazendo e que culminou com uma boleia até à feia cidade fronteiriça de Paso Canoas onde todos entrámos no Panamá, nós para ficar, elas para em breve regressarem à quinta com um novo carimbo no passaporte.
It all started with an email to my friend Temy, who once told me about a friend of hers, Ana, who had moved to Costa Rica to plant coffee. We love meeting Portuguese who live in the countries we visit and when I (Sara) remembered I soon asked if there was any chance of Ana receiving us at her farm.
The answer could not be more open and immediately we started our abusive behavior by asking if she could receive and hold some packages we ordered until our arrival. From there we started exchanging emails constantly noticing some anxiety for our actual presence. The main problem is that from the sea level we had to climb to 1200 meters of altitude in just 30 km. Nothing that Ana didn’t rapidly solve with a ride with her sister Dina and her aunt Isabel, her companions in this adventure that has almost two and a half years.
The situation in Portugal was not the best, the will to change life existed and Dina, who has worked for many years in Washington DC had a tip from a friend that living in Costa Rica would be a good idea. “But go to Costa Rica to do what?” – Ana asked, “Well, to plant coffee” Dina said, which proves that good ideas and life changes are not always the result of extensive reflections from ttheir protagonists.
It took about nine months between the research of a finca (farm) and all formalities required for a life change of this scale and the three adventurers started their new life producing coffee. Soon they discovered that they needed their own brand if they wanted to have a profitable business, and that’s how Las Dueñas was born.
As they took us on the jeep up the mountais, all huddled between bikes and panniers Dina and Isabel were telling us not to expect great luxuries, they had some little cabañas where they lived and little else. Usually cabañas are built in cement, with glassless windows, wooden shutters and roofs in straw, not the fantastic accommodation in which we were received, entitled to our own cabin, with en-suite bathroom, dressing room, a giant window overlooking the green valley and all the luxuries of modern civilization.
We confess that after nights sleeping on the floor at the fire stations this was amazing, but the best is that these nice girls have the great virtue of being Portuguese and enjoy good food, conversation at the table, good bread, that we ate as if there was no tomorrow, and good little things from our country that made us feel at home, like typical sweets, gizzards or chicken rice.
In the days that we spent with them they showed us the town of San Vito, a typical day between errands to put coffee to roast, take some copies or fill the tank in Panama, just a few miles from home without having to cross the border. Of course we also saw the huge coffee plantation (four ha with expansion plans), rescued from some previous neglect by Ana’s total dedication and even gave a little help on a morning, tearing needless branches born without shame in the small plants. Not an easy job, with the sun’s heat, the slope of the terrain and the time spent hunched, so even more commendable for anyone who has to do it every day and not just to try as was our case.
If Ana became an expert in the plantation, Dina and Isabel deal with numbers, sales and customers, which is also hard work, every two weeks they leave the cool of the farm and go down to the tropical heat of the coast and during two days they have to deliver coffee, try to capture new customers and develop contacts already made. The three work very hard but they have the sparkle in the eyes of those who are building something of their own.
Besides all this they also take care of four dogs, some cats, a garden, beautiful flowers and of their guests. Ana, the most energetic, took us to some natural hot springs, Dina, the poshest, vigorously watched with us the last game of the World Cup in which Costa Rica was eliminated, Isabel, the most peaceful, took care of our plane tickets, an essential formality to enter Panama, and they all played a card game named canasta played with Pedro, who hadn’t played any since we left home.
The days were spent with great joy, with a taste of Portugal, that we start to misso so much and it finished with a ride to the ugly border town of Paso Canoas where we all entered Panama, we to stay, them to soon return to the farm with a new stamp on the passports.
Meus queridos amigos,
Adorei o vosso relato dos dias passados na finca…Sara sei que és tu a redactora, muito obrigada, és muito generosa…
Só uma pequena correcção são 6 hectares de café e não 4…é só para saberem não tem importância nenhuma…
Se for possível, podemos publicar este vosso relato na página do facebook de Las dueñas?
Muito obrigada, vocês são uns amores…
Voltem sempre Bjs e abraço muito forte ana
Ana,
Nós gostámos mesmo muito do tempo que passámos aí. Usem o texto para o que quiserem, entretanto já corrigi os hectares (ups!).
Beijinhos
Tenho a impressao que ja vejo uma PLANTITAS no fundo agarradas as uns paus . . . . sera o comeco de um jardim muito, muito lindo?
A “Finca” e linda, mas o que realmente vale mais e a companhias da Dina, Isabel e Ana, sem elas e o terreno para plantar plantas . . . . queria tambem expressar o meu agradecimento publico as Las Duenas pelos inesqueciveis dias que passei na quinta num periodo que mais paz necessitava na minha vida.