A continuada magia do eixo cafezeiro e uma aventura em África | The continued magic of the coffee axis and an adventure in Africa

Manizales tem uma certa originalidade em relação às restantes cidades que temos visitado. A rua principal encontra-se no cume, ou crista, da montanha e a cidade vai crescendo ao longo da encosta, o que dá lugar a ruas muito inclinadas. As montanhas que rodeiam a cidade, conferem-lhe o estatuto de destino privilegiado para a prática de BTT, e as boas lojas de bicicletas abundam por aqui. Claro está que rumámos a todas as que encontrámos, mas, desta vez, acabámos por não comprar nada.

Fora do centro histórico, abalado por alguns terramotos em anos recentes, há pouco que ver, pelo que, passado um dia de visita lá nos vimos, primeira montanha abaixo e depois encosta acima, em direcção a Santa Rosa de Cabal, bem no centro desta região, que tem como cidades principais Manizales, Pereira e Arménia. Pelas estradas bem cuidadas observam-se plantações de café, entrecortadas por pequenos cursos de água que dão lugar a guaduas (bambus gigantes) e algumas palmeiras que não nos fazem esquecer que continuamos nos trópicos. O Verão dos dias anteriores deu lugar a um Outono a ameaçar chuva e resolvemos parar num restaurante de boa pinta para descansar, comer e fugir à aguardada carga de água.

Enquanto dividíamos um menú e uma sopa extra acercou-se de nós o Óscar, um aventureiro da motocicleta, em cima da qual já viajou até ao Chile e a diversos países da Europa, mas inexplicavelmente deixou Portugal de fora. Ofereceu-nos o almoço, aliás deixou-nos dinheiro para os almoços da semana inteira, e ainda um fantástico CD do rei da pop.

Minutos depois de sair fomos abordados pelo Fernando, que acabou por se juntar a nós enquanto almoçava. Há uns anos decidiu largar o seu trabalho pouco estimulante num banco e abriu uma empresa de roupa interior para homem, que já vai tendo algum sucesso, graças à qualidade dos seus produtos. O Pedro que o diga, que foi presenteado com um par de boxers, entretanto já testados, e que pode confirmar o seu conforto.

Saímos pouco depois do restaurante, não sem antes apreciar os cafezinhos oferta da casa, e continuámos a subida. Decidimos não entrar em Santa Rosa de Cabal e prosseguir, o fim da subida brindou-nos com um miradouro sobre Pereira e Dos Quebradas, a cidade onde iríamos pernoitar, e, ainda melhor, uma abertura nas nuvens cinzentas directamente sobre um dos picos cobertos de neve que compõem o Parque Nacional los Nevados. A descida aguardava-nos e foi com agrado que seguimos em grande velocidade até Dos Quebradas, aliás, com tanto agrado que passámos a Pastelaria Ricuras de Romelia, ponto de referência para chegar ao próximo destino, obrigando-nos a voltar atrás na subida por cerca de um quilómetro.

Universidade sem Fronteiras é um projecto de viagens em bicicleta para todas as idades, com o objectivo maior de aprender. O José David recebeu-nos na casa ocupa, que é a sede da universidade, entre outras funcionalidades, e como bom latino-americano sugeriu-nos que ficássemos pelo menos mais uma noite, com uma proposta de aventura, ir à Cordilheira Ocidental visitar uma quinta que a universidade quer comprar para fazer uma reserva natural.

Aceitámos a proposta quase de imediato. Afinal de contas de que serve sermos donos do nosso tempo se não for para abraçar as oportunidades e aventuras que se nos apresentam?

Arrisco dizer que o mais inusitado nesta aventura foi mesmo a viagem ao norte de África. Perante os nossos ouvidos ia-se desenrolando o itinerário, primeiro Cartago, a apanhar o dono da quinta, o senhor Hernan, e dois camponeses comunistas, obcecados com a palavra processo, e que nos iriam acompanhar, o Omar e o Ricardo. De seguida passaríamos por Argélia e finalmente, já depois de muitas subidas e descidas, El Cairo.

Ao chegar a El Cairo já quase colados ao distrito de Chocó, que ladeia com o Pacífico, conhecemos o Fernando, dono da quinta Villa Gloria, vizinha da que está à venda, e de um coração de ouro. Desde logo nos emprestou dois cavalos para transportarmos toda a tralha necessária a acampar por uma noite junto à casa. Com o cavalo já carregado, coube-me a mim, única mulher do grupo o privilégio de subir na outra besta, com as rédeas na mão do Omar, o maior especialista no nobre género equestre.

A chegada mostrou-nos uma casa em ruínas, com morcegos, com chão em terra, sem água e com parte do terreiro com evidências grandes que tinha sido usado para guardar gado. Já tínhamos descarregado tudo e terminávamos o almoço quando decidimos que o melhor seria mesmo descer à quinta do Fernando para pernoitar. Mas antes… impunha-se uma visita à cascata, a jóia da coroa da finca. O problema residia no facto de ninguém fazer o caminho até à cascata há anos, e apesar da memória prodigiosa do senhor Hernan a guiar-nos através de um trilho coberto de folhagem e ramos, foi necessário abrir caminho à machetada. Durante praticamente duas horas o barulho dos machetes a desbravar a selva foram o som dominante à medida que íamos penetrando no bosque. Mas valeu a pena, a cascata era lindíssima e as conquistas têm um sabor diferente do que nos é oferecido de mão beijada.

Após as fotografias da praxe, impunha-se regressar rapidamente para que a noite não nos apanhasse a meio do caminho.O Omar e o Ricardo já tinham carregado o cavalo quando chegámos à quinta, e depois de um retemperador pão com queijo iniciámos a descida.

A excursão ainda nos viria a revelar mais surpresas, um jantar vegetariano oferecido por alguns visitantes da quinta (do Fernando, não a que está à venda) e no dia seguinte uma visita à horta biológica com direito a trazer sementes, frutos e legumes, seguido de um belo caldo de batatas, arepas, pão e chocolate quente.

Deixámos o Norte de África com alguma pena e regressámos a Dos Quebradas, com direito a ir tomar um café depois do jantar à simpática cidade de Santa Rosa de Cabal.

No dia seguinte despedimo-nos do José David e do Gonçalo e partimos em direcção a Salento.

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Manizales has a certain originality in relation to other cities we visited. The main street is on the top, or crest, of the mountain and the city grows along the hillside, which gives originates some very steep streets. The mountains surrounding the city, make it a privileged spot for mountain biking, and good bike shops abound here. Of course, we headed to all we could find, but this time we ended up not buying anything.

Outside the historic center, shaken by some earthquakes in recent years, there is little to do or see, so, after a day spent visiting the city, we were on our way, first downhill and then uphill towards Santa Rosa de Cabal, right in the center of this region, whose main cities are Manizales, Pereira and Armenia. Travelling in some really well maintained roads we could observe the coffee plantations, interspersed with small streams that give rise to guaduas (giant bamboo) and some palm trees that don’t allow us to forget that we are still travelling in the tropics. The summer of the previous days gave way to a threatening rain autumn and we decided to stop at a nice restaurant to rest, eat and escape the anticipated load of water.

While shared a menu and an extra soup, Oscar, an adventurous motorbiker, who traveled to Chile and several countries in Europe, but inexplicably left out of Portugal, started talking to us, and then he offered to buy us lunch, in fact, he left us money to buy lunches for an entire week, and on top of that a fantastic king of the pop CD.

Minutes after Oscar left we were approached by Fernando, who ended up joining us while having lunch. A few years ago he decided to leave his job in a not so stimulating job on a bank and opened a business of underwear for men, which is having some success, thanks to the quality of their products. Pedro can confirm it, since he was presented with a pair of boxers, that he already tested.

Shortly after, we left the restaurant, but not before enjoying the coffees on the house, and continued the climb. We decided not to go in Santa Rosa de Cabal and as soon as we finish the climb we reached a viewpoint over Pereira and Dos Quebradas, the city where we would spend the night, and, even better, an opening in the gray clouds directly over one of the covered snow peaks snow of the los Nevados National Park. The descent awaited us and I was pleased to go at such great speed, that we ended up passing our reference point to reach the house where we were going to stay and had to climb almost one kilometer back up.

University Without Borders is a project that does bike trips for all ages, with the ultimate goal of learning. Jose David received us in an occupied house, which is the headaquarters of the university, among other features, and, as any latin american host, he suggested us to stay at least one night, and proposed an adventure, go to the Western Cordillera and visit a farm that the university wants to buy to make a nature reserve.

We accepted the proposal almost immediately. After all what’s the purpose of being masters of our time if we don’t embrace the opportunities and adventures that presents to us?

I dare say that the most unusual in this adventure was the trip to northern Africa. Before our ears the itinerary was being disclosed, first Carthage, to take the owner of the farm, Mr Hernan, and two communist peasants, obsessed with the word process, Omar and Ricardo. Then we would go through Algeria and finally, after many ups and downs, Cairo.

Arriving in Cairo, really close to the district of Chocó, which runs alongside the Pacific, we met Fernando, who owns a neighboring farm (Finca Villa Gloria), and a heart of gold. He immediately lent us two horses so that we could transport all the necessary stuff to camp for one night by the house. With the horse already loaded, I had the privilege, as the only woman in the group, to climb to the other horse, who was being guided by Omar, the leading expert on the noble equestrian gender.

The arrival showed us a house in ruins, with bats, with a dirt floor, no water and part of the yard with ample evidence that it had been used to herd cattle. We had unloaded everything and we finished lunch when we decided it would be best to go back to Fernando’s farm to spend the night. But before … we had to visit the waterfall, the farm’s crown jewel. The problem was that the path had not been used for years, and despite the prodigious memory of Mr. Hernan who guided us through a trail covered in leaves and branches, it was necessary to pave the way using two machetes. For almost two hours the sound of the machetes braving the jungle were the dominant sound as we were entering the woods. But it was worth it, the waterfall was beautiful and to achieve something at hard work has a different taste than just having it handed to us on a silver platter.

After the usual photos, we had to return quickly so that night didn’t caught us in the middle of the jungle.O Omar and Ricardo had already loaded the horse when we got to the farm, and after a reinvigorating bread and cheese we began the descent.

The trip would give way to more surprises still, a vegetarian dinner make by Fernando’s visitors, and on the next day a visit to the organic vegetable garden where we were offered seeds, vegetables and fruits, followed by a breakfast of potato soup, arepas, bread and hot chocolate.

We left Africa with some pitty and got back to Dos Quebradas, and at night we went for a coffee at the nice town of Santa Rosa de Cabal. On the next day we said goodbye to Jose David and Gonçalo and headed towards Salento.

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